sábado, 21 de maio de 2011

ENTREVISTA EXCLUSIVA A PATRÍCIA MATOS, TVI



1) A Patrícia é ribatejana. Como foi crescer nessa zona do país?

Sim, sou ribatejana, natural de Santa Margarida da Coutada, a Sta. Margarida do Campo Militar. Vivi lá até aos meus 12 anos. Depois mudei para o concelho de Abrantes. Como já é Médio Tejo, já não é uma paisagem composta apenas de planícies. Crescer ali foi maravilhoso, das melhores coisas que tive na vida. Lembro-me de correr os cabeços com o meu pai à procura de um pinheiro que servisse como àrvore de Natal, do cheiro da terra molhada e dos regressos a casa depois da escola. Éramos poucos miúdos e eu sou filha única, era sempre uma festa.

2) Com que idade aprende a ler ? Lembra-se da sua professora primária. Como era ela?

Não recordo a idade mas sei que aprendi a ler muito cedo. Lia bem, não me enganava, fazia bem as pontuações, os meus primos achavam o máximo e a minha mãe não se cansava de me gabar. Tive duas professoras, na primária. Uma delas, a Dna. Justina, já tinha sido professora dos meus pais. Rigorosa! A prof. Glória era também muito exigente. Tinham ambas imenso trabalho comigo… era danada para a conversa!

3) Qual a história de encantar que marcou a sua infância, porquê?

Nunca me deixei levar por histórias de encantar, a sério. Lembro-me que gostava muito do Peter Pan, mas acho que não se pode chamar uma história de encantar…! Aquela fantasia da Terra do Nunca fascinava-me muito. Acho que todos queremos a ‘nossa’ terra do nunca. Não um sítio onde sejamos sempre crianças… mas o nosso mundo. E era isso que me entusiasmava- um mundo, uma ‘terra’ como eu queria!

4) Com que idade se apercebe que gostaria de ser jornalista

? Sempre o quis ser? ou nem sempre esse era o seu sonho?

Quando era miúda queria ser professora de inglês. Comecei cedo a estudar a língua e estava convencida que tinha futuro! Depois cresci, descobri outras coisas. A minha mãe tinha um amigo locutor de rádio que me disse que tinha uma boa voz. Nem fiz caso. Rádio? Que disparate! O ‘disparate’ virou caso sério. Comecei a fazer rádio por carolice aos 12 anos, numa rádio local. Depois, só depois, surge a paixão pelo jornalismo. Sempre na rádio, fiz programas de autor e noticiários… até entrar na faculdade. Depois o tempo escasseou… e apareceu a televisão!

6) Quem eram os seus jornalistas de referência durante a

sua adolescência? Porquê?

Lembro-me do José Rodrigues dos Santos, da Judite de Sousa, do Mário Crespo, a Luísa Fernandes, a Paula Magalhães, o Carlos fino. A imagem, o rigor, dei

xavam-me nervosa e entusiasmada ao mesmo tempo. Mas eu era mais rádio… o fascínio das vozes: o Sena Santos, o Adelino Gomes e, noutra vertente, dois Antónios: o Macedo e o Sala.

7) Onde se forma como jornalista?

Estudei no Instituto Politécnico de Portalegre, formei-me em

Jornalismo e comunicação. Eu e mais uns quantos colegas provámos que é possível vingar no mun

do profissional. Sem falsas modéstias. Lembro-me de alguém me perguntar se era ‘o Portalegre do Alentejo?’. Era, pois era. O curso deixou-nos muito preparados mas claro que só a prática nos dá tudo. Sentimo-nos muito orgulhosos por ter chegado a uma redacção e saber escrever uma notícia. Não temos poderes mágicos mas sabemos que a realidade é bem diferente. Ain

da durante o curso estagiei na Antena 1 e TVI e passei por 2 empresas de comunicação.

8) Qual foram os seus primeiros trabalhos no jornalismo?

Na rádio foram vários, não me lembro. Depois de terminar o estágio tra

balhei numa empresa de comunicação que tinha vários projectos de publicações: saúde, desporto, académica. Como estive no desporto, na Antena 1, estava mais confortável na área. Depois, passei por outra agência de comunicação onde escrevi sobre saúde. Essa foi uma área em que trabalhei bastante na TVI. Sei que no meu 2º dia de estágio em Queluz fui para o aeroporto com o repórter de imagem, esperar o corpo de uma português morto no Brasil. Dramático. Agosto. Horas a fio. Sol insuportável. Resistimos!

9) Lembra-se ainda do seu primeiro directo em TV. Que peça apresentou. Lembra-se?

Lembro. O 1º directo aconteceu exactamente um ano depois de ter en

trado para a TVI pela primeira vez, nessa altura ainda enquanto estagiária. Foi um directo de um incêndio no Belas Clube de Campo. Foi no Jornal Nacional, ainda não havia TVI 24. Acho que não correu mal… No estúdio, foi no dia 28 de Fevereiro de 2009, o TVI Jornal, as 14h.

10) Pivô ou repórter? Porquê?

Jornalista! Sempre! Enquanto jornalista preciso muito proc

urar, escrever e contar. Não faz sentido ficar só à espera que as notícias venham ter connosco para as comunicarmos. Faz sentido sermos nós a contá-las. E, de resto, um bom pivot é aquele que conhece a historia e a Históri

a. Que já esteve nos locais e sabe do que fala. E para isso é preciso trabalhar todos os dias. Informar e ser informado. Nada cai no colo. Não há sucesso sem trabalho. O estúdio dá-nos a postura que precisamos ter na rua, ensina-nos a ser disciplinados e mais formais. Hoje os pivots já são jornalistas e não vamos ser hipócritas: toda a gente sonha com o

lugar de pivot. Eu também sonhava mas mais nunca pensei que fosse uma realidade t

ão próxima!! Tenho um amigo que diz ‘hei-de estar a passar a rua, de bengala, e os meus olhos vão andar à roda à procura de uma história’. Nada mais certo!

11) Como foi dar a conhecer aos telespectadores a

residência oficial do Presidente da República?

Foi um trabalho muito engraçado. Um formato diferente, que ap

resentámos no Diário da Manhã. Pessoalmente, já conhecia o Palácio de Belém mas foi uma visita muito particular e muito agradável! Encontramos sempre coisas novas!

12) Lembra-se de alguma situação caricata em TV, que quando se recorda da-lhe vontade de rir, pelo acontecimento em si?

Várias… os realizadores esperam pelo final do jornal ou pela meteorologia para ‘aliviar um bocadinho’ e essas alturas são complicadas de gerir!! Eu consigo

mas nem sempre é fácil, há toda uma equipa a rir e nós temos de aguentar! São períodos muito longos, a concentração é máxima e há sempre qualquer coisa que falha. Lembro-me de ter um editor a canta

r os parabéns no meu auricular, durante o jornal, um assistente debaixo da mesa porque houve uma falha técnica, de ter trocado de camisa no meio do estúdio.

13) Para si, o que é ser jornalista?

É levantar pedras, mexer em papéis, acordar pessoas, fazer perguntas incómodas e não esperar as respostas. É respirar fundo, dormir nos intervalos do trabalho. É superar-se todos os dias, procurar mais, fazer melhor e ir mais além para contar aquilo que as pessoas ainda não sabem. Ensinaram há muito tempo que, independentemente do interesse que representam, todas as histórias são dignas e merecem, por isso, ser bem contadas.

Acredito que ser jornalista é quase como ser mãe: não ter horas, estar sempre disponível, sempre à procura do melhor momento e ter sempre uma palavra preparada. Na crónica do 2º aniversário do jornal ‘i’, Hugo Gonçalves dizia que «não é a mesma coisa ser jornalista e ser electricista. (…) Ninguém percebe de fusíveis e no entanto toda a gente comenta notícias. Ser jornalista é mais que um ofício, é uma tirania que

se escolhe.” Ser jornalista é difícil mas não trocava esta vida por nada!

14) 4 de Setembro de 2009. Que horas eram quando soube que seria a Patrícia a apresentar o Jornal Nacional de 6.ª, que até então tinha Manuela Moura Guedes na sua condução?

Nunca falei sobre este assunto. Já passaram quase 2 anos, já há algum distanciamento. Mas esta vai a ser a única vez. Sem me alongar… temos de recuar um dia.

Soube no final do dia 3 de Setembro.

15) Por quem soube que seria pivô nesse dia?

Fui convidada pela Manuela Moura Guedes. Perguntou-me se apresentava o jornal. Disse que sim. Fui convidada, não obrigada. Ao contrário do que se disse na altura.

16) Que misto de sensações a rodearam nesse momento e mais tarde às 20 horas em ponto, quando sabia que muitos portugueses queriam s

aber o que iria acontecer?

Aconteceu tanta coisa nesses dias que nem sei o que senti. Foi uma tarde muito complicada. Nervosismo, obviamente, e grande responsabilidade. O país inteiro estaria a ver o jornal naquele dia e a razão não era, naturalmente, por ser eu a apresentar.

17) Teve a oportunidade de falar com Manuela Moura Guedes após a apresentação do jornal? Em caso afirmativo, o que ela lhe disse?

Sim, falámos. A equipa do JN 6ªfeira estava à minha espera à po

rta do estúdio. A Manuela agradeceu o meu trabalho e eu agradeci o voto de confiança.

18) Como vê o TVI 24 no mundo do jornalismo?

Como uma potência emergente, assim como uma economia poderosa! Conheço bem o canal, ajudei ao nascimento. Está a dar passos pequenos mas sólidos e isso é o mais importante. Saímos em último lugar: lutamos contra o hábito, a História mas não desistimos, nunca! 2011 vai ser o ano do TVI 24.



domingo, 8 de maio de 2011

ENTREVISTA EXCLUSIVA A PAULO MAGALHÃES, TVI

Paulo Magalhães, encontra-se actualmente à frente na Edição das 10, no TVI 24, que conta com o comentário semanal de Luís Marques Mendes, às quintas-feiras.

Leia agora a entrevista exclusiva ao jornalista.

1) Como foi crescer em Lisboa?

-Aqui não há história, sou de Lisboa, nado e criado em Alvalade, numa altura em que por vezes nas Avenidas Novas ainda passavam rebanhos de ovelhas, o leite e o pão eram entregues à porta de casa e o Bairro de São Miguel, em Alvalade, parecia uma aldeia, com as crianças a brincar na rua, à solta, ao longo de todo o dia.-

2) Que brincadeira com os seus colegas guarda da sua memória de infância?

- As descidas de ruas mais íngremes em carrinho de esferas.

3) Desde sempre quis ser jornalista?

- Só na adolescência, quando optei pela área de Humanísticas se começou a desenhar essa hipótese; tenho um irmão mais velho que foi jornalista da Lusa e que me influenciou, embora sempre tenha preferido a Rádio como caminho.

4) Como inicia a sua ligação à rádio? Considera que a rádio é uma boa escola para quem posteriormente quer fazer televisão?

- Ainda no tempo das rádios piratas, havia no Instituto Superior Técnico a RUT, Rádio Universidade Tejo; aí, estando eu já a frequentar Comunicação Social na Uni
versidade Nova de Lisboa, tive com alguns amigos um programa de informação semanal chamado “Nevoeiro” e assegurávamos também os três noticiários diários da
“estação”; depois foi uma questão de sorte: durante o último ano de facu
ldade, foi criada a TSF, depois de um curso em que tive a sorte de ser dos que ficaram para arrancar com o projecto; éramos todos jovens, cheios de ideias, cheios de genica e, sob a batuta sábia do Emídio Rangel entre outros, fizemos uma Rádio diferente, de notícias, com Alma, que rapidamente se impôs; desses tempos datam muitas das melhores amizades, com gent
e que está hoje espalhada um pouco
por vários
órgãos de comunicação social. Passados uns anos, fui com a Elisabete Caramelo fundar a TSF Porto, cidade onde vivi cerca de ano e meio, e onde fui convidado para a Rádi
o Renascença, uma grande Casa, onde aprendi imenso, viajei pelo Mundo e se me entranhou o tal “bichinho” da Política.
A Rádio foi para mim a MELHOR escola de jornalismo, aprende-se a es
crever como se fala, porque a linguagem de rádio tem de ser oral, a ser sintético, a ir log
o ao mais importante e também me tem ajudado nesta nova etapa na TVI.

5) Acredita que uma voz com sonoridade tem de ser bem trabalhada, ou é algo inato, ou tem ou não te tem?

- A voz é algo inato, nasce connosco, mas pode sempre ser melhorada em termos de colocação e entoação; agora o que pode e deve ser trabalhada é a dicção, a articulação das palavras, a respiração, e há excelentes profissionais que nos podem ajudar nessa matéria.
6) Como surge a oportunidade de vir para a TVI?

- A oportunidade foi um convite da Constança Cunha e Sá, então Editora de Política da TVI, pouco antes do arranque do TVI24, há cerca de dois anos. É alguém de quem sou amigo e que admiro há já muitos anos, e veio “desinquietar-me” à Renascença onde eu de resto já era Editor de Política; ainda estive na dúvida, mas depois pensei que era um bom desafio, uma experiência nova, e pronto, cá estou.

7) Vemos o Paulo como pivô da informação no jornal da 10, no TVI 24. Como é um dia normal da sua rotina, até à apresentação do jornal?

- Chego à TVI por volta da hora do almoço e preparo as entrevistas e os debates do dia, depois de ler os jornais; como a actualidade é muito mutável e variada, e ninguém sabe tudo sobre tudo, tenho muito que estudar. À hora do Jornal Nacional é tempo da caracterização, saio de Queluz por volta da meia-noite.

8) Acha que um jornalista consegue desligar-se completamente da sua profissão, ou é muito complicado, mesmo em férias?

- Completamente nunca, mas até por causa de filhos, mulher e família, além da própria sanidade mental, faço por “esvaziar” a cabeça durante as férias e por desligar a ficha, leio menos jornais, televisão vejo só mesmo o essencial.

9) Reportagem no terreno ou pivô da informação? Porquê?

- Uma coisa não impede a outra, são acumuláveis e até é bom que o sejam; os pivôs correm o risco de não só perder fontes de informação, como também de se alhearem da vida real, de se limitarem apenas ao jornalismo sentado; de resto, o que gosto mesmo mais de fazer são as campanhas eleitorais e os congressos partidários, tudo cheio de adrenalina e notícias, que puxam muito mais por nós do que o trabalho em estúdio.

10) É adepto das redes sociais? Em que circunstâncias?

Sim, mas não obcecado; são boas fontes informais de informação e servem por vezes para reatar ou manter laços com quem está longe.

11) Qual foi a reportagem que o mais marcou até ao dia de hoje, porquê?

- A reportagem que mais me marcou não tem nada a ver com política; há alguns anos a Argélia estava em guerra civil, os islamitas que tinham sido ilegalizados, desenvolviam acções terroristas por todo o pais e o governo militar também não era flor que se cheirasse; fui o primeiro português a aterrar em Argel, percorri o pais, ouvi e contei histórias d
uras e cruéis mas que me solidificaram muito quer pessoal quer profissionalmente, e vi pela primeira vez gente morta á minha frente nas ruas.
De outro ponto de vista (e porque as reportagens foram muitas e marcantes) tive o privilégio de estar em Roma quando morreu o Papa João Paulo II; cheguei dois ou três dias antes da sua morte, fiquei até á eleição de Bento XVI; e assisti às emoções, á tristez
a, ao milagre da fé de milhares e milhares de pessoas que foram à Praça de S. Pedro para se despedirem do agora Beato João Paulo II.

13) Acredita que o jornalismo consegue ser independente a 100% da política e do Estado? Porquê?

- Sim, deve ser, tem de ser; é essa a raiz da própria profissão, a credibilidade cai de pantanas se se quebrar o dever de isenção; agora, há formas de pressionar jovens jornalistas, precários e mal pagos como o são cada vez mais nos nossos dias, por forma a que nem sempre todos os pormenores da historia sejam contados; há as represálias através do corte na publicidade que alimenta os mass media privados, há as simpatias excessivas, tudo, ou q
uase tudo legitimo da parte “deles”; é uma luta que deve ser travada e ganha pela profissão.

14) Como vê a nova equipa de directores da informação da TVI, José Alberto Carvalho e a Judite de Sousa?

- Com enorme esperança e optimismo, são profissionais de mão cheia, com ideias e um rumo, que pensam a Televisão alem do imediato e que de resto, desde que cá chegaram, já deram provas e marcaram, no caso da Judite, a própria actualidade.

15) Como é que foi entrevistar a pintora Paula Rego?

- Acima de tudo, muito divertido; é uma senhora que não tem pa
pas na língua, que deu já todas as provas que tinha de dar, que diz tudo o que pensa; é uma grande figura portuguesa, que rompeu as fronteiras de uma mulher nascida durante o Estado Novo, que pinta com alma os fantasmas dela e nossos, e que ao mesmo tempo guardou uma ingenuidade quase infantil e muito pura na maneira como ve o mundo.

16) Como é que vê a actual conjuntura económico-política do nosso país?
Costuma reunir-se com o comentador das quintas-feiras, Luís Marques Mendes para falarem do que abordaram no comentário semanal, ou tudo surge naturalmente?

- Com o Dr Marques Mendes já estamos em velocidade de cruzeiro: no inicio, há mais ou menos um ano, costumávamos reunir todas as semanas ás segundas feiras, para analisar os temas e escolher os que iriam ao programa; depois falavamos mais duas ou três vezes por telefone; hoje em dia, é mais só por telefone que acertamos os pormenores, temos longas conversas e por vezes discussões sobre os ângulos pelos quis se deve pegar na actualidade, sobretudo sobre os “mais” e os “menos” da semana…
Quanto á situação do pais, é grave e preocupa-me, sobretudo pelos meus filhos e pelo futuro deles e do país, mas também sei que temos mais de oito séculos de história e quero crer que amanhãs mais sorridentes nos aguardam.

18) Paulo Magalhães, Paula Magalhães: afinal é só os nome que os une ou também uma grande relação de amizade?

- Conhecemo-nos apenas quando entrei para a TVI, não há qualquer laço familiar que nos una, mas costumamos brincar com a coincidência. Recebemos correio e telefonemas trocados todas as semanas e até já falámos em ter um programa “Magalhães e Magalhães”, que com a minha inteligência e a beleza dela, seria um sucesso de certeza…

19) Que conselhos gostaria de deixar aos futuros jornalistas deste país?

Não dou conselhos, cada um é si próprio e a sua circunstancia, mas sei que a vida de jornalista, e sobretudo de jovem jornalista, é hoje muito mais complicada do que quando eu comecei; o mercado não chega para tanta oferta, há muita exploração dessa mão-de-obra barata, é uma vida dura em que é preciso persistir.