quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ENTREVISTA EXCLUSIVA À JORNALISTA DA TVI, RITA RODRIGUES

Rita Rodrigues é actualmente jornalista na TVI. Casada com o jornalista da RTP, Daniel Pessoa e Costa, a pivô foi mãe recentemente, da pequena Matilde. Leia agora a entrevista, em exclusivo, à jornalista.

1) A Rita é natural de Aveiro. Como foi crescer e desenvolver laços de amizade com toda a sua vizinhança durante a infância?
Nasci em Aveiro e vivi lá toda a minha infância e adolescência. Do que os meus pais me dizem, sempre fui uma criança muito curiosa. Guardo as melhores recordações desse tempo. Lembro-me em especial dos Verões na praia da Costa Nova e das brincadeiras com os meus primos.

2) Ainda se lembra da sua brincadeira predilecta?
Adorava andar de bicicleta. Aliás, a minha mãe conta frequentemente a história da minha primeira bicicleta, que me foi oferecida num Natal. Tinha um cesto à frente e era cor-de-rosa. Além disso tinha uma campainha, que eu passava a vida a tocar. Os vizinhos é que não deviam achar piada nenhuma. Nos meus joelhos e cotovelos ainda há marcas das aventuras "a bordo" dessa bicicleta…

3) Quando entrou para a escola primária já sonhava com alguma profissão?
Queria ser advogada. Sempre fui muito palradora, não parava de conversar e de fazer perguntas (aqui está provavelmente a origem da minha tendência para o jornalismo). Já trocava argumentos e então dizia que queria ir para os tribunais, participar nos julgamentos. Alimentei esta ideia até tarde, mas por volta dos 15 anos percebi que o que eu queria mesmo era ser jornalista.

4) Ainda se lembra da sua série infantil preferida?
Eu sempre fui um bocadinho viciada em televisão e ainda me lembro de passar as manhãs de sábado agarrada ao ecrã a ver os desenhos animados. A minha série preferida era o Tom Sawyer. As personagens, as aventuras, aquela correria desenfreada do Tom atrás do comboio no genérico são inesquecíveis e por outro lado fazem-nos pensar como as histórias para crianças eram mais inocentes há vinte e tal anos.

5) Na passagem do ensino primário para o básico tinha alguma preferência entre português ou matemática?
Português, sem dúvida. Eu fazia as contas todas e sabia de cor a tabuada, mas do que eu gostava mesmo era de escrever composições e ler.

6) Com que idade lê o seu primeiro livro?
Tendo nascido na década de 80 fui muito influenciada pela colecção "Uma Aventura...". Já não sei qual foi o primeiro livro que li, mas recordo-me que o meu preferido foi o "Uma aventura no Palácio da Pena". Na mesma altura fiz uma viagem de estudo a Sintra e, por isso, o livro lembrava-me os sítios por onde tinha passado, mas impregnados de mistério.

7) Durante a adolescência tinha algum jornalista de referência, que gostava particularmente de ver na TV?
Em casa dos meus pais sempre houve uma companhia ao jantar, o Telejornal. Foi o primeiro contacto com o jornalismo. Quando comecei a ser uma espectadora mais crítica ficava agarrada a ver as entrevistas e debates da Judite Sousa, da Margarida Marante e da Maria Elisa. Curiosamente, ou não, são todas mulheres. Apreciava a forma como lideravam uma conversa, como estavam preparadas para falar de um tema, a subtileza com que conduziam os entrevistados para perguntas mais difíceis.

8) Se pudesse viajar numa máquina do tempo a que época regressaria?
Se calhar em vez de andar para trás, preferia espreitar o futuro. Sou muito curiosa! Mas, sinceramente, gosto desta época. Penso até que é um privilégio. As coisas que hoje são possíveis e tudo o que temos à disposição fazem desta época um momento muito especial. O mundo evoluiu muito rapidamente e em pouco tempo. Se eu recuar 15 anos, até ao liceu, apercebo-me de como tudo era diferente. Não tinha telemóvel, muito menos smartphone, a internet ainda só era uma promessa, não havia o google, nem as redes sociais. E se pensarmos, em termos profissionais, na forma como a tecnologia ajudou o jornalismo, então a diferença ainda é maior.

9) Ser jornalista era um projecto que marca já o seu secundário?
Sim, completamente. Quando escolhi Humanidades já era a pensar no curso de Jornalismo, mais tarde. Aliás, eu gosto de ver o futuro, minimamente, projectado. Dou margem para a espontaneidade e para as coisas próprias da vida e do tempo, mas paralelamente gosto de fazer projectos, de estabelecer algumas metas.

10) Acaba por se licenciar onde?
Aos 18 anos segui de Aveiro para Coimbra. Estudei na Faculdade de Letras. E quatro anos depois estava licenciada em Jornalismo.

11) Onde fez o seu estágio curricular?
Na RTP no Porto, que era, de resto, onde sempre quis estagiar. Foram quase 4 meses de grande aprendizagem e sobretudo um incentivo a continuar. Foi a confirmação de que tinha feito a escolha certa.


12) Como surgiu a oportunidade de vir trabalhar para o TVI 24?
Bem, a TVI surgiu depois de 5 anos de experiência. A seguir ao estágio trabalhei no Correio da Manhã, na delegação de Aveiro. Foi uma experiência marcante porque foi a chegada ao mundo de trabalho. No fundo, foi aquele momento em que se deixa, para sempre, de ser estudante, para se ser trabalhador e, por isso, mais responsável. Fez-me crescer enquanto jornalista e enquanto mulher, porque lidei com casos muito diferentes, alguns deles até com algum risco. De seguida surgiu a oportunidade de regressar a Coimbra para trabalhar na RTP e Antena 1. Fazia rádio e televisão simultaneamente e aprendi imenso. Tornei-me mais autónoma e também mais polivalente: lembro-me de estar com dois microfones na mão. Quando olho para trás penso que foi muito importante ter experimentado, praticamente, todas as formas de jornalismo. Só não fiz agência de notícias. Deu-me uma visão mais abrangente e ensinou-me as diferenças entre jornal, rádio e televisão. E a rádio é, sem dúvida, uma grande escola, porque trabalha-se, literalmente, ao minuto.

13) Que grandes ensinamentos retirou da formação que lhe foi ministrada pelo jornalista José Carlos Castro?
Foi muito importante porque eu nunca tinha estado num estúdio. Fazer directos na rua é uma coisa, apresentar as notícias é outra. Há imprevistos que é preciso antecipar, há emoções que é preciso dominar, há uma postura que é necessário ter e há erros que é obrigatório evitar. Mas em comum há um aspecto que é fundamental: simplicidade. Quanto mais simples for a nossa linguagem, mais facilmente a mensagem é transmitida. A eloquência deve deixar-se para outros registos. Minimizar os obstáculos entre jornalista e telespectador é primordial.

14) Uma mãe muito recente. Como é que uma jornalista consegue conciliar a vida sem horários dentro de uma redacção com o seu lado maternal?
Estou quase a saber como é. A licença de maternidade está a terminar e, em breve, regresso à redacção e àquela loucura de horários, em que só se sabe a que horas se entra e às vezes nem isso. Mas estou confiante de que vou conseguir conciliar o lado profissional com o lado pessoal.

15) A Matilde é uma menina calma ou está naquela fase em que começam já aparecer os primeiros dentes e as noites são longas?
A Matilde tem sido uma criança encantadora. Já há algum tempo que dorme a noite inteira, o que para praticamente todos os pais é um descanso. É muito sorridente e bem-disposta e faz, literalmente, os encantos dos pais, família e amigos.

16) Esteve também na emissão da manhã, na TVI, no Diário da Manhã. Durante esta fase a que horas se tinha de levantar para chegar à redacção?
Quando o TVI24 arrancou eu fazia dupla com o Bernardo Santos no Jornal da Manhã que ia para o ar às 6 da manhã. Nessa altura acordava às 3 horas da madrugada. Depois quando fui para o Diário da Manhã passei a acordar uma hora mais tarde, porque o jornal também começava uma hora depois. Foram dois anos difíceis, em que abdiquei de muito e pûs a vida profissional à frente da pessoal. Mas vi-os como um desafio e faço um balanço além do positivo. Só se consegue aguentar com muita disciplina, com uma rotina sem excepções e com muito apoio da família.

17) Os teóricos definem que a informação matinal é aquela que recorre maioritariamente aos principais jornais da imprensa escrita. Como se começam a apresentar as notícias tão cedo?
Hoje em dia as redacções debatem-se com um gravíssimo problema que é a falta de recursos financeiros que se reflecte desde logo nos recursos humanos. Há um ano, estava de férias em Nova Iorque, e por coincidência apanhei numa rua a gravação de uma entrevista para o 60 Minutos. Havia a jornalista, o repórter de imagem, dois produtores, uma pessoa para segurar os cabos e ainda outra para ir afastando as pessoas que passavam em redor. E sabe-se lá quantas mais pessoas estavam na redacção a trabalhar naquela entrevista. Esta realidade não existe em Portugal e quando as televisões não podem contratar todas as pessoas de que precisam, são os profissionais que têm de desdobrar-se em tarefas. A equipa do Diário da Manhã quando chega tem de perceber o que aconteceu durante a madrugada e actualizar e encurtar as notícias da véspera, porque os espectadores, de manhã, estão pouco tempo com a televisão ligada. Eu era sempre das primeiras pessoas a chegar. Só não tinha de ligar as luzes, porque elas não se desligavam. Gosto sempre de chegar com tempo para responder a eventuais imprevistos.

18) Também é nos horários matinais onde mais próximo do final vão surgindo notícias de última hora e muitas vezes não existe qualquer pivô no teleponto. É fácil improvisar neste tipo de notícias?
A experiência é fundamental juntamente com uma boa capacidade de comunicação e, claro, saber do que se está a falar. A primeira vez que isso tem de acontecer gera-se naturalmente algum nervosismo, mas passado algum tempo começa a ser uma rotina. Não são assim tão raras as vezes em que se recebe imagens, das agências de notícias, e depois em estúdio e em directo é necessário comentá-las, sem rede. Aconteceu-me muitas vezes. Recordo uma emissão especial, quando o Papa Bento XVI visitou Santiago de Compostela, em que durante duas horas e com a ajuda do Padre Rego, fui relatando os diversos momentos. Mas já que fala da questão do teleponto, posso dizer-lhe que na última vez que apresentei o Diário da Manhã houve um problema técnico e tive de fazer as três horas do programa sem teleponto. Cheguei ao fim completamente exausta, mas quando as pessoas me disseram que não se tinham apercebido de nada, fiquei com a sensação de "serviço cumprido".

19) Como vê o actual desenvolvimento das redes sociais na sua ligação com o jornalismo moderno?
Vejo-as como mais uma fonte e como mais uma ferramenta de trabalho. São fundamentais e ignorá-las é pôr o trabalho em risco, é não querer ver uma parte da realidade. Permitem-nos aceder a mais pessoas. É notável, por exemplo, como o cidadão normal pode transformar-se em jornalista, através do Skype e participar no relato de uma situação. Isso tem acontecido com cada vez mais frequência por exemplo em cenários de violência, como os recentes motins em Inglaterra, ou no decorrer de certos fenómenos naturais, como o tsunami no Japão. Por outro lado, as redes sociais também são hoje palco da notícia. Basta ver a frequência com que o Presidente da República se dirige aos portugueses através do Facebook.

20) Até ao presente momento qual foi a reportagem que mais felicidade lhe deu fazer?
Nos últimos tempos estive mais ligada aos directos e não tenho tido oportunidade de fazer muitas reportagens. Em contrapartida, a TVI deu-me oportunidade de explorar um género de jornalismo que eu adoro, que é a entrevista. Nos últimos dois anos, foram raríssimos os dias em que não entrevistei alguém em directo. Tive oportunidade de conhecer e falar com pessoas extraordinárias. Por exemplo, a política é uma área que me interessa e gostei muito de entrevistar alguns comentadores e analistas, sobretudo aqueles que fazem interpretações diferentes das mais ouvidas. E recordo-me de uma entrevista muito emotiva a uma mãe-coragem que escreveu o livro "O meu pequeno médico", no qual contava a história da luta do filho, uma criança de 10 anos, contra um cancro, que infelizmente o fez partir.


21) Para terminarmos que conselhos gostaria de deixar aos futuros jornalistas deste país.
Gostava de recordar-lhes uma máxima da sabedoria popular: "quem corre por gosto, não cansa". Hoje não é fácil sair da faculdade e conseguir um trabalho numa redacção, mas não se pode desmoralizar ao primeiro não. Não desistam, insistem. E quando tiverem oportunidade de trabalhar, empenhem-se ao máximo. Mostrem o que valem. Sejam originais nos vossos textos. Fujam das frases feitas. E pensem que quem lê, ouve ou vê os jornalistas não lhes está a dedicar 100 por cento da sua atenção, por isso "assaltem" a atenção do público e esforcem-se por passar uma mensagem fácil de captar.